A professora fez uma pausa e
completou: “Assim, eles se apaixonarão pela vida, e, quando estiverem no
controle da sociedade, jamais farão guerras, sejam guerras físicas que retiram
o sangue, sejam os comerciais que retiram o pão. Pois cremos que os fracos usam
a força, mas os fortes usam o diálogo para resolver seus conflitos. Cremos
ainda que a vida é obra prima de Deus, um espetáculo que jamais deve ser
interrompido pela violência humana.”
Os pais deliraram de alegria com
essas palavras. Mas o representante do judiciário quase caiu de torre.
Não se ouvia um zumbido na
platéia. O mundo ficou perplexo. As pessoas não imaginavam que os simples
professores que viviam no pequeno mundo das salas de aula fossem tão sábios. O
discurso dos professores abalou os líderes do evento.
Vendo ameaçado o êxito da
disputa, o mediador do evento disse arrogantemente: “Sonhadores! Vocês vivem
fora da realidade!” Um professor destemido bradou com sensibilidade: “Se
deixarmos de sonhar, morreremos!”
Sentindo-se questionado, o
organizador do evento pegou o microfone e foi mais longe da intenção de ferir
os professores: “Quem se importa com os professores na atualidade? Comparem-se
com outras profissões. Vocês não participam das mais importantes reuniões
políticas. A imprensa raramente os noticia. A sociedade pouco se importa com a
escola. Olhem para o salário que vocês recebem no final do mês!” Uma professora
fitou-o e disse-lhe com segurança: “Não trabalhamos apenas pelo salário, mas
pelo amor dos seus filhos e de todos os jovens do mundo.”
Irado, o líder do evento gritou:
“Sua profissão será extinta nas sociedades modernas. Os computadores os estão
substituindo! Vocês são indignos de estar nesta disputa.”
A platéia, manipulada, mudou de
lado. Condenaram os professores. Exaltaram a educação virtual. Gritaram em
coro: “Computadores! Computadores! Fim dos professores!” O estádio entrou em
delírio repetindo esta frase. Sepultaram os mestres. Os professores nunca
haviam sido tão humilhados. Golpeados por essas palavras resolveram abandonar a
torre. Sabem o que aconteceu?
A torre desabou. Ninguém
imaginava, mas eram os professores e os pais que estavam segurando a torre. A
cena foi chocante. Os oradores foram hospitalizados. Os professores tomaram
então outra atitude inimaginável: abandonaram, pela primeira vez, as salas de
aula.
Tentaram substituí-los por
computadores, dando uma máquina para cada aluno. Usaram as melhores técnicas de
multimídia. Sabem o que ocorreu?
A sociedade desabou. As
injustiças e as misérias da alma aumentaram mais ainda. A dor e as lágrimas se
expandiram. O cárcere da depressão, do medo e da ansiedade atingiu grande parte
da população. A violência e os crimes se multiplicaram. A convivência humana,
que já estava difícil, ficou intolerável. A espécie humana gemeu de dor. Corria
o risco de não sobreviver...
Estarrecidos, todos entenderam
que os computadores não conseguiam ensinar a sabedoria, a solidariedade e o
amor pela vida. O público nunca pensara que os professores fossem os alicerces
das profissões e o sustentáculo do que é mais lúcido e inteligente entre nós.
Descobriu-se que o pouco de luz que entrava na sociedade vinha do coração dos
professores e dos pais que arduamente educavam seus filhos.
Todos entenderam que a sociedade
vivia uma longa e nebulosa noite. A ciência, a política e o dinheiro não
conseguiam superá-la. Perceberam que a esperança de um belo amanhecer repousa
sobre cada pai, cada mãe e cada professor, e não sobre os psiquiatras, o
judiciário, os militares, a imprensa...
Não importa se os pais moam num
palácio ou numa favela, e se os professores dão aulas numa escola suntuosa ou
pobre – eles são a esperança do mundo.
Diante disso, os políticos, os
representantes das classes profissionais e os empresários fizeram uma reunião
com os professores em cada cidade da nação. Reconheceram que tinham cometido um
crime contra a educação. Pediram desculpas e rogaram para que eles não
abandonassem seus filhos.
Em seguida, fizeram uma grande
promessa. Afirmaram que a metade do orçamento que gastavam com armas, com o
aparato policial e com a indústria dos tranqüilizantes e dos antidepressivos
seria investida na educação. Prometeram resgatar a dignidade dos professores, e
dar condições para que cada criança da Terra fosse nutrida com alimentos no seu
corpo e com conhecimento na sua alma. Nenhuma delas ficaria mais sem escola.
Os professores choraram. Ficaram
comovidos com tal promessa. Há séculos eles esperavam que a sociedade acordasse
para o drama educação. Infelizmente, a sociedade só acordou quando as misérias
sociais atingiram patamares insuportáveis.
Mas, como sempre trabalharam como
heróis anônimos e sempre foram apaixonados por cada criança, cada adolescente e
cada jovem, os professores resolveram voltar para a sala de aula e ensinar cada
aluno a navegar nas águas da emoção.
Pela primeira vez, a sociedade
colocou a educação no centro das suas atenções. A luz começou a brilhar depois
de longa tempestade... No final de dez anos os resultados apareceram, e depois
de vinte anos todos ficaram boquiabertos.
Os jovens não desistiam mais da
vida. Não havia mais suicídios. O uso de drogas dissipou-se. Quase não se ouvia
falar mais de transtornos psíquicos e de violência. E a discriminação? O que é
isso? Ninguém se lembrava mais do seu significado. Os brancos abraçavam
afetivamente os negros. As crianças judias dormiam na casa das crianças
palestinas. O medo se dissolveu, o terrorismo desapareceu, o amor triunfou.
Os presídios se tornaram museus.
Os policiais se tornaram poetas. Os consultórios de psiquiatria se esvaziaram.
Os psiquiatras se tornaram escritores. Os juízes se tornaram músicos. Os
promotores se tornaram filósofos. E os generais? Descobriram o perfume das
flores, aprenderam a sujar suas mãos para cultivá-las.
E os jornais e as TVs do mundo? O
que noticiavam o que vendiam? Deixaram de vender mazelas e lágrimas humanas.
Vendiam sonhos, anunciavam a esperança...
Quando esta história se tornará
realidade? Se todos sonharmos este sonho, um dia ele deixará de ser apenas um
sonho.
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